THE BEATLES E O ÁLBUM QUE FOI CONSAGRADO PELA REVISTA ESPECIALIZADA EM MÚSICA “ROLLING STONE” O MELHOR DE TODOS OS TEMPOS – “SGT, PEPPER’S LONELLY HEARTS CLUB BAND”.
“Aceite o gentil convite desses quatro cabeludos, desses quatro bandoleiros do rock. Não resista: eles querem contar como mudaram a história do século 20.” Na sala de concertos, a orquestra da uma última afinada em seus instrumentais. A platéia murmura, ansiosa, à espera da nova criação do grande Mestre. De repente, irrompem guitarras feéricas, acompanhadas pela forte marcação da bateria. A voz de Paul berra do fundo do fundo da garganta anunciando a Banda do Sargento Pimenta. Só então a cortina se abre e a banda entra em cena, provocando gargalhadas de prazer no público. Os quatro se apresentam: – Somos a Banda do Clube dos Corações Solitários do Sargento Pimenta… Todos em êxtase. O grande Mestre – que se chamam Beatles – mais uma vez não decepcionou ninguém. Pelo contrário, surpreendeu o mundo com um trabalho que mudaria definitivamente o curso da música contemporânea. Não há dúvida de que foi também um marco divisório na carreira do próprio grupo. O mais impressionante, porém, é que a música popular nunca mais foi a mesma depois desse disco e todos os pop stars queriam fazer também seus álbuns conceituais – como se Sgt. Pepper’s fosse apenas isso. Até aquele momento, o álbum era nada mais nada menos que o melhor trabalho dos melhores do mundo – e muitos o consideram até hoje o ponto máximo da carreira dos Beatles, inclusive John Lennon: – Sgt. Pepper’s é o primeiro de todos. Foi um pico. Paul e eu estávamos realmente trabalhando juntos quando o fizemos. Foi um álbum pioneiro sob muitos aspectos: nenhum disco pop, até então, tivera um mesmo tema do começo ao fim, nem tampouco faixas ligadas uma às outras, praticamente sem interrupção; além disso, os quatro levaram ao extremo, nesse álbum, uma inovação que já haviam introduzido em Rubber Soul e Revolver: o uso de orquestração e instrumentos estranhos ao rock, assim como grandes elaborações de produção. Desta maneira, foram maiores os desafios à habilidade de George Martin, que teve que conseguir, entre outras coisas, ruídos bucólicos (como mugidos de vacas e relinchos eqüinos), uma orquestra de 41 figuras para tocar sem partitura, um som que só fosse audível por cachorros e assim por diante. Desempenhou tão bem suas funções que um critico chegou a considerá-lo autor do álbum – o que magoou profundamente os verdadeiros criadores, conforme conta Paul: – Ficamos ofendidos com isso. Não é essencial que ele nos ajude, embora seja uma grande ajuda; mas vocês sabem muito bem que o álbum não foi feito por ele! Sgt. Pepper’s chegou na hora certa – no momento em que os jovens agitavam bandeiras pacifistas, descobriam o amor livre e prazeres psicodélicos – trazendo todos esses elementos da maneira mais inesperada possível. Era um reflexo da realidade, mas surpreendia pelo modo criativo de abordá-lo. Enfim, a palavra de ordem não era o Real, mas o Sonho. Em Sgt. Pepper’s, ele era lindo, louco, inesquecível. MATURIDADE.
Havia a idéia de fazer um álbum conceitual referente à infância e à adolescência dos quatro. Mais ou menos em setembro de 1966, Paul apareceu com a canção “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”. Decidiram que este seria também o titulo do disco e alguém teve a idéia de fazê-lo como se fossem eles a banda. Daí em diante, a unidade do álbum foi tomando forma: cada nova canção que aparecia encaixava sob medida onde colocada. As gravações começaram em dezembro de 1966 e se estenderam (com um pequeno intervalo de Natal) até abril de 67. Se recordarmos que o primeiro álbum dos Beatles ficou pronto em um dia, teremos uma vaga idéia do quanto o trabalho dos rapazes amadurecera. E, como disse John, ele e Paul estavam mais entrosados do que nunca. O resultado não poderia ser melhor. As polêmicas, obviamente, não foram poucas. Enquanto os fãs ensandeciam de prazer a intelectualidade, enfim, adotava os Beatles. Ou seja: agora, até a nata cultural podia assumir que gostava dos quatro, pois haviam mostrado ser muito mais que rapazinhos de Liverpool a deslumbrar moçoilas. Até a imprensa oficial (foram capa do Time, por exemplo) começava a adular os Fab Four.
UMA COROA PARA A PETULÂNCIA.
Mas havia também os advogados de acusação – ou não será um trabalho de vanguarda. Spiro Agnew (na época, governador de um Estado norteamericano, posteriormente, vice de Nixon) tentou proibir “With a Little Help From My Friends” no rádio, pois achava que a frase “I get high” (eu fico alto) referia-se a drogas. “A Day in the Life” foi banida da BBC pelo mesmo motivo, mas os Beatles nunca disfarçaram a referência às drogas presente no disco, que se transformou num símbolo da abertura das portas da percepção (alas, Aldous Huxley, autor do livro As Portas da Percepção, onde descreve uma experiência com mescalina, está representado na capa do disco). Mas as pessoas viam muito mais “horrores” do que realmente existiam. Foi nessa época, inclusive, que Paul contou à revista Life que já havia tomado LSD, causando um grande rebuliço na cabeça dos que acreditam que os jovens são meros seguidores de exemplos, sem vontade própria. Como se os Beatles fossem os detonadores da onda psicodélica que varreu o mundo no final dos anos 60! Se pessoas como Spiro Agnew e seus sucessores se deixassem influenciar pelos Beatles, talvez não estivéssemos mergulhados até o pescoço no atual estado de coisas.
A capa do disco não causou menos surpresa que seu conteúdo. Foi criada por Peter Blake, mas a partir de idéias dos Beatles. Traz uma colagem de fotos de pessoas pertencentes às lembranças dos Beatles: Elvis, Dylan, Marilyn, Fellini, Oscar Wilde, Karl Marx, Aldous Huxley, o Gordo e o Magro, Tom Mix, Marlon Brando, entre muitos outros. (Hitler estava lá, mas conta-se que, na última hora, John achou que sua prsença seria de extremo mau gosto e o retirou.) A gravadora EMI não concordou com a capa, pois temia que as pessoas vivas ali representadas iniciassem um processo. Paul argumentou que todos iriam adorar estar ali (e foi o que aconteceu). Mas se tornou necessário que os Beatles concordassem em retirar Gandhi (a gravadora visava ao mercado indiano), pagassem uma indenização prévia de 40 milhões de dólares para o caso de processos e que Brian Epstein conseguisse uma autorização de cada uma das 62 pessoas vivas presentes na colagem. As quatro figuras de cera que representam os Beatles no museu londrino de Madame Tussaund estão lá, com seus terninhos dos tempos de bons moços. Bem ao lado, os quatro (de verdade!),vestidos em seus coloridos ternos de cetim, feitos especialmente para a ocasião por Jann Haworth e inspirados em uniformes vitorianos (a última moda em Londres naquele momento). Seguram instrumentos de banda e no bumbo, à sua frente, está escrito Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Uma boneca veste uma camiseta com a inscrição “Welcome the Rolling Stones” (Bem-vindos os Rolling Stones). À frente da banda, o nome Beatles e uma guitarra formadaos por flores. Há quem diga que há também pés de maconha, em protesto contra a não legalização da erva. As estatuetas no jardim foram trazidas das casas dos quatro. O disco tem ainda um encarte em papel-cartão, com apetrechos da banda para recortar – divisas, emblemas, bigode, etc. Esse último não era nem necessário, pois muita gente deixou crescer o bigode no estilo da banda. Conta-se que a tomada dessa foto, no estúdio do fotógrafo Michael Cooper, em Chelsea, foi uma continuação da loucura em que se realizou a gravação de todo o álbum, com muitos excitantes químicos, improvisação e acontecimentos insólidos que entraam madrugada adentro. Não podia ser diferente. Afinal, nunca eles haviam ousado tanto em termos de experimentação. E nunca o resultado havia sido tão perfeito. Raras vezes na história a ousadia é tão rapidamente coroada de êxito. A confecção de Sgt. Pepper’s foi um happening. E, até hoje, ouvi-lo pode se transformar em outro.
VÍDEO TEMPORÁRIO.
Por Marina Sanches – @sancmarina
Fonte: S.S.
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