sexta-feira, 23 de agosto de 2013

ANIVERSÁRIO DE PAUL DE 21 ANOS E A CONFUSÃO QUE JOHN ARRUMOU.

A confusão que John Lennon armou no aniversário de Paul McCartney

Em junho de 1963, os Beatles já faziam sucesso na Inglaterra, e os shows e programas de televisão não davam trégua. Finalmente, em 18 de junho de 1963, após algumas apresentações no norte da Inglaterra, os Beatles decidiram fazer uma pausa e deram uma festa para comemorar o aniversário de 21 anos de Paul McCartney. A celebração deveria acontecer na residência dos McCartney, na Forthlin Road, mas por questões de segurança, devido à popularidade do grupo, foi transferida para a casa da tia de Paul, Jin Harris, na privacidade de um adorável jardim nos fundos da casa.
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Paul McCartney em seu 21° aniversário
Nada parecia estragar aquela agradável noite de verão, com um céu limpo e estrelado, acompanhando o clima descontraído que girava em torno da banda e seu repentino sucesso. Entre os convidados, que não paravam de chegar, estavam: Gerry Marsden, Billy J. Kramer, The Fourmost, alguns integrantes dos conjuntos The Merseybeats, The Searchers, The Remo Four, The Hurricanes e, talvez, as maiores estrelas – The Shadows, vindos de Londres, sem Cliff Richard, que estava fora, fazendo um filme. Brian Epstein, o empresário dos Beatles, veio sozinho, assim como Bob Wooler, o conhecido DJ do Cavern. Alguns velhos amigos de Liverpool também compareceram. Tudo estava ocorrendo como o esperado. O tom alegre das conversas espalhava-se por todo o jardim.
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Convidados sob a tenda montada no jardim, John e Cynthia aparecem na foto.
Conforme a noite avançava e as atenções foram sendo focadas completamente em Paul, John começou a entrar em um estado de depressão. Longe das luzes dos holofotes, John começou a consumir uma quantidade absurda de álcool, enquanto tropeçava por entre a alegre multidão, cada vez mais bêbado e hostil. Pouco depois das 22 horas, Pete Shotton foi procurar um banheiro. John, que estava completamente bêbado, passou por Bob Wooler, que já estava na fase avançada da bebedeira, embora não tanto quanto John. Apesar de conviver diariamente com a maioria das bandas que ali estavam, incluindo os Beatles, Wooler era às vezes muito falso, com um tom sarcástico na voz que incomodava as pessoas. E com John não foi diferente.
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Bob Wooler conversando com George Harrison
Há diversas versões sobre o que Bob Wooler disse exatamente para John Lennon, mas todas as pessoas que viram a cena concordam que Wooler fez uma referência maldosa às férias que John passara com Brian Epstein, que era homossexual. Segundo John, Bob teria dito “Qual é, John, fale sobre você e Brian, todo mundo sabe”. Mas na versão que mais pessoas citaram, Wooler teria dito “Ah, John e Brian acabam de voltar da lua de mel na Espanha”. Sem pestanejar John pulou sobre Bob Wooler e começou a socá-lo violentamente. Quando percebeu que não tinha causado estrago suficiente, John pegou uma pá de jardim que estava pelo quintal e bateu com o cabo em Bob, uma ou duas vezes. Segundo uma testemunha da briga, “Bob cobriu o rosto com as mãos e John chutava os dedos dele”. Depois, Lennon diria: “Eu estava massacrando o cara, batendo nele com um pedaço de pau, e pensei: ‘Posso matar esse sujeito’”. A fúria era tamanha, que foram necessários dois grandalhões – o baixista dos Fourmost, Billy Hatton, e Billy J. Kramer, que tinha acabado de chegar de uma apresentação – para tirar John de cima de Wooler e segurá-lo. Segundo Kramer, “ele estava completamente fora de si, como se tivesse enlouquecido”. Quando Pete Shotton retornou do banheiro, se deparou com a cena no jardim e levou Lennon para longe, enquanto os outros chamavam urgentemente uma ambulância para socorrer Bob Wooler, que estava com o nariz quebrado e fraturas na clavícula e em três costelas.
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Brian Epstein e John Lennon
O descontrole alcoólico de John ainda não havia terminado. Diante do olhar horrorizado de Cynthia Lennon – sua esposa que havia acabado de dar à luz o primeiro filho do casal, Julian – ele agarrou uma garota, segurou-a pelos seios e não queria mais largá-la. Mais uma vez, Kramer tratou de afastá-lo da moça. Segundo ele, “John estava agitando os braços e gritando: ‘Você não é nada, Kramer – você é um bostinha! Nós somos o melhor grupo de todos’. Ele estava ficando agressivo. Então eu lhe mostrei o punho e disse: ‘Vou quebrar a sua cara se você não calar a boca’”. A noite acabou para John quando Kramer, que era muito maior que ele, arrastou-o até a calçada da frente, acalmando Cynthia, que já estava surtando com toda a situação. Por fim, um táxi apareceu e levou o casal para casa.
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Antes que a poeira baixasse, Bob Wooler dirigiu-se até o escritório de Rex Makin. “Ele chegou com um olho roxo e o nariz inchado”, lembra Makin, “e me deu instruções para processar Lennon”. Como Makin era advogado de Brian, e, portanto de John, era uma situação difícil. Mas Rex agiu sobriamente: “Apenas liguei para Brian e agi no interesse de todos”, diz ele com satisfação. “Em virtude do inconveniente”, conta Wooler, “eu recebi 200 libras e um pedido de desculpas, bem pouco convincente, de John”. Alguns dias depois da festa, Tony Barrow foi procurado por Don Short, o editor do caderno de cultura do Daily Mirror, que estava investigando uma briga em que os Beatles estariam envolvidos. Logo, Barrow tratou de minimizar o ocorrido, mas, quando os outros jornais tomaram conhecimento da situação, foi obrigado a emitir uma declaração. “Primeiro telefonei para John, em Liverpool, para obter a versão dele da história”, lembra Barrow, “mas ele estava muito agressivo. Sua resposta foi: ‘E daí, porra? Aquele idiota me chamou de veado. Recebeu o que merecia’”. Barrow sentiu a crise que isso poderia causar na carreira profissional dos Beatles e tomou providências para evitá-la. Assim, instruiu John a manter-se afastado do telefone, deixando todas as ligações para Tony, que colocaria panos quentes sobre o incidente. O Daily Mirror de 21 de junho trazia uma enorme manchete na última página: “BEATLE ENVOLVIDO EM BRIGA – DESCULPE POR TER DADO UM SOCO EM VOCÊ”:
O guitarrista John Lennon, de 22 anos, líder do conjunto pop The Beatles, declarou na noite passada: “Por que dei um soco no meu melhor amigo? Eu estava tão bêbado que não sabia o que estava fazendo”. Ele enviou um telegrama de desculpas para o mestre de cerimônias e de rock Bob Wooler, 29 anos, que disse: “Eu não sei por que ele fez aquilo. Sou amigo dos Beatles há muito tempo. Sempre apresentei os shows deles. Fiquei muito machucado com isso, física e mentalmente”. John Lennon declarou: “Bob é a última pessoa do mundo com quem eu desejaria brigar. Só posso esperar que ele se dê conta de que eu tinha bebido demais e não sabia o que estava fazendo”.
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Telegrama enviado por John, que dizia “Lamento muito Bob, terrivelmente incomodado de perceber o que fiz. Ponto. Que mais posso dizer? John Lennon”
Na verdade, Wooler e John nunca falaram com a imprensa. As citações publicadas foram obra de Tony Barrow e Brian Epstein, que contornaram a situação para não afetar o crescente sucesso dos Beatles. De qualquer forma, bem ou mal, os Beatles tinham finalmente conseguido se tornar manchete no jornal nacional. A mesma manchete que, agora, poderia arruinar a trajetória da banda, depois anunciaria ao mundo que eles estavam conquistando um lugar nunca antes alcançado.
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